terça-feira, 29 de maio de 2007

22 - DIA EUROPEU DOS VIZINHOS

Instituído em 2003, o Dia Europeu dos Vizinhos assinala-se na última terça-feira de Maio e é uma iniciativa que tenta criar respostas para alguns desafios que as cidades enfrentam.
Os habitantes dos grandes centros urbanos, "mais fácilmente" falam via internet com um desconhecido, por vezes doutro país ou até doutro continente, do que dão os bons dias aos vizinhos.
A meu ver, há nesses centros, um sentimento de desconfiança, motivado pelas notícias de assaltos, raptos, etc. que diáriamente surgem.
Por outro lado, o nosso egocentrismo e a correria diária, impelem-nos a passar ao lado das pessoas sem as olharmos. (A excepção são as Deusas que atraem os olhares masculinos e vice-versa)
Mesmo dentro das nossas próprias casas, a televisão, os computadores e as consolas de jogos isolam-nos cada vez mais da nossa própria família.
Até nas aldeias mais escondidas deste nosso rectangulo o individualismo e a solidão são cada vez maiores, onde além dos motivos atrás referidos se junta a desertificação rural.
Nos Forcalhos, contam os mais idosos, no Inverno, quando as noites eram maiores, faziam serão à luz da candeia, confraternizando...Longe vão esses tempos do serão a fiar, a tecer, a desfolhar o milho, ou mesmo a jogar cartas ou a contar peripécias e banalidades do dia a dia, como eles contam.


A desfolhada (tempos modernos)

Hoje em dia é muito mais cómodo ficar no aconchego do lar a ver a novela...
Lembro-me dos tempos em que o pão que se comia nos Forcalhos vinha de Alberegaria de Argañan ou de Casilhas de Flores. Para aproveitar a deslocação traziam-se 3 ou 4 pães. Depois emprestava-se um ou dois aos vizinhos que íam lá e traziam pão para devolver e assim se arranjava sempre pão mais fresco para comer!
Por outro lado, o trabalho agricola, sem a maquinaria que há hoje, era ssencialmente
feito com a ajuda dos vizinhos e amigos aos quais depois se retribuía de igual forma.
Em dias de recolher feno ou batatas, em casa de meus pais chegámos muitas vezes a juntar mais de uma duzia de amigos...
Contava meu pai e meus tios que o meu avô Latote e o ti Zelo, pai do Clemente, juntavam os rebanhos, faziam parceria com as vacas de trabalho, partilhavam ferramentas, etc. ao ponto de as pessoas comentarem que só faltava trocarem de mulher!

sexta-feira, 25 de maio de 2007

21 - A BRINCAR A BRINCAR

Pois é amigos Forcalhenses e não só, a brincar a brincar, não sei como, este blog sem pretensões já contou mais de mil visitas, repito, não sei como...(991 fui eu próprio que as fiz), mas e as outras 12.... dá que pensar....
Quero agradecer áqueles que me visitaram e sobretudo áqueles que comentaram...
Mandem ideias artigos e fotos.

Foto tirada à Nave Saleira em Abril passado, (regato florido)

Confesso que, quando, a medo, resolvi iniciar esta brincadeira estava longe de imaginar que em 3 meses teria 1000 visitas.
Quase em simultâneo a ARCF iniciou a publicação do blog que visito regularmente e cujas fotos e notícias aprecio. Parabéns pela iniciativa e pela dedicação à nossa humilde terra, que precisa de mais actos construtivos desta e de outra índole.
Um abraço a todos.
Fernando Latote

quarta-feira, 16 de maio de 2007

20 - VELHAS QUADRAS POPULARES

A maioria, senão todas as quadras que se seguem, ficaram-me na memória, quando as ouvi e mais tarde cantei, nas animadas rondas(1) que se faziam nos Forcalhos.
(1) A ronda consistia em andar pelas ruas da aldeia, cantando, às vezes ao desafio, ao toque do acordeão ou concertina.


As moças dos Forcalhos
São finas como o arame
Não há dinheiro que as pague
Nem rapaz que as engane

Esta noite choveu oiro
Prata fina orvalhou
As moças dos Forcalhos
Algum anjo as pintou

Oh lua que vais tão alta
Alumia cá para baixo
Q’eu perdi o meu amor
Ando a ver se o acho

Menina do rés do chão
Não tenha a janela aberta
Que o meu coração é vadio
Anda sem morada certa

Quem quer arranjar namoro
Compre tabaco e fume
Vá a casa da vizinha
Ó menina dê-me lume

A vida do lavrador
É vida de poucas modas
Chega a casa à noitinha
Soltas as vacas, apanha as sogas.

Rua acima rua abaixo
Meti o pé num buraco
Saiu de lá uma velha
Foge rapaz que te capo

Eu dantes cantava bem
Lá na minha mocidade
Agora quero e não posso
Já não me permite a idade

Canta camarada canta
Canta que eu te ajudarei
Se n’algum ponto errares
Chama por mim q’eu irei

Canta meu amigo canta
Já vi que sabes cantar
Canta lá uma cantiga
Aos quatro pontos quadrar

Aos quatro pontos quadrar
Aqui está quem a quadrou
Aqui está quem por amor
Pai e mãe tudo deixou

A rosa d’Alexandria
Antes de o ser foi botão
Se te abrires algum dia
Abre-te na minha mão

Escrevi teu nome na água
Coisa que não se fazia
O teu nome é tão lindo
Que até na água se lia

Ai quem me dera uma lima
Para limar a garganta
Para cantar como a rola
Como a rola ningém canta

Já comi e já bebi
Já molhei minha garganta
Eu sou como o rouxinol
Quando bebe logo canta

Todo o pardal come trigo
E a coruja bebe azeite
O melro da minha prima
Come carne e bebe leite

quinta-feira, 10 de maio de 2007

19 - BOI DEMONSTRA AMOR PELO DONO!!!

Alguns animais domésticos afeiçoam-se tanto aos donos, ao ponto de...

sábado, 5 de maio de 2007

18 - A PROPÓSITO DE BURROS

Lembro que nos ultimos anos da década de 70 começaram a aparecer carroças metálicas, as mais comuns com rodas de pneu, que destronaram as albardas e cangalhas...
O ti Zé do Pião, como morava longe do chafariz, adaptou umas cangalhas, de modo a carregar cantaros com água. (ainda não existia o chafariz junto ao quintal do "ti Botas")
Nos forcalhos a primeira carroça de burros de que me recordo era do meu saúdoso vizinho Fedo, era toda artistica, tinha elegantes rodas, pintadas de verde, os taipais laterais eram também em madeira trabalhada e tinha até travão... e a burra que a puchava tinha arreios adequados.
Mais tarde, quando o ti Manel Polo, pai do António Polo regressou da capital para residir nos Forcalhos também tinha uma carroça idêntica, embora menos "elegante".
O ti Manel "Polo" tinha dois burros corpulentos que levava em dias alternados a Aldeia Velha, transportando o correio até à camioneta da carreira que (penso eu de que) depois o levava até ao comboio...
As carroças além de transportarem mais peso e quantidade eram menos complicadas para carregar...


Nestas fotos de 1983 vemos uma carroça mais recente, mais rustica, construída por meu pai, excepto as rodas.
Agora os burros de 4 patas estão também a escassear cada vez mais.
Ao contrário do que muitos pensam, os burros (de 4 patas) são animais inteligentes e dóceis e pouco exigentes na alimentação. Além da erva que pastavam nos lameiros, meus pais davam às burras restos que as vacas deixavam na manjedoura e a palha e o feno mais fraco. Os burros comem até as flores de algumas espécies de cardos e os rebentos tenros das silvas assim como as amoras das mesmas.
Apesar dessa alimentação pobre, meus pais tiveram uma burra (A ruça), que tinha tanto de gorda como de mansa, ao ponto de eu andar em pé em cima dela, sem albarda ou outro acessório.

Nesta foto, tirada em 1982, vemos a ruça carregando comigo a tocar o tambor do saúdoso "ti Bernardino". Fez-se nesse ano, uma segunda capeia, com vacas e bezerras e o pedido da praça em vez de cavalos engalanados tinha burros de várias raças...
No tempo de férias os jovens conterrâneos que viviam fora da terra, gostavam de acompanhar comigo quando levava as vacas e as burras para o lameiro, para "cavalgarem" a ruça. A pobre chegou a carregar com quatro burritos (leia-se garotos) simultaneamente...
Um dos mais assíduos cavaleiros era o Rui Sousa (Pulante prós amigos) que uma vez caíu da ruça e fraturou um braço...
Mas antes disso, criança de tenra idade, "comprou" a ruça a meu pai por 20 escudos.
Todos os dias pela manhã ía lá a casa para ver o seu animal de estimação e levava os 20 escudos para pagar a burra.
Meu pai dizia que só aceitava o dinheiro e lha entregava no fim das férias e que ele a podia levar para Lisboa atada à camioneta da carreira e inventava mil desculpas para não lha entregar de imediato... (a ruça tinha que ir ao milho, puxar a nora, etc.)
Porém houve uns dias em que o Rui não apareceu lá por casa e todos estranhámos...
Quando meu pai viu de novo o Rui, perguntou-lhe:
- Então ainda queres comprar a burra ou não?
- Olhe, coma-a com batatas! - respondeu o petiz.