quarta-feira, 16 de maio de 2007

20 - VELHAS QUADRAS POPULARES

A maioria, senão todas as quadras que se seguem, ficaram-me na memória, quando as ouvi e mais tarde cantei, nas animadas rondas(1) que se faziam nos Forcalhos.
(1) A ronda consistia em andar pelas ruas da aldeia, cantando, às vezes ao desafio, ao toque do acordeão ou concertina.


As moças dos Forcalhos
São finas como o arame
Não há dinheiro que as pague
Nem rapaz que as engane

Esta noite choveu oiro
Prata fina orvalhou
As moças dos Forcalhos
Algum anjo as pintou

Oh lua que vais tão alta
Alumia cá para baixo
Q’eu perdi o meu amor
Ando a ver se o acho

Menina do rés do chão
Não tenha a janela aberta
Que o meu coração é vadio
Anda sem morada certa

Quem quer arranjar namoro
Compre tabaco e fume
Vá a casa da vizinha
Ó menina dê-me lume

A vida do lavrador
É vida de poucas modas
Chega a casa à noitinha
Soltas as vacas, apanha as sogas.

Rua acima rua abaixo
Meti o pé num buraco
Saiu de lá uma velha
Foge rapaz que te capo

Eu dantes cantava bem
Lá na minha mocidade
Agora quero e não posso
Já não me permite a idade

Canta camarada canta
Canta que eu te ajudarei
Se n’algum ponto errares
Chama por mim q’eu irei

Canta meu amigo canta
Já vi que sabes cantar
Canta lá uma cantiga
Aos quatro pontos quadrar

Aos quatro pontos quadrar
Aqui está quem a quadrou
Aqui está quem por amor
Pai e mãe tudo deixou

A rosa d’Alexandria
Antes de o ser foi botão
Se te abrires algum dia
Abre-te na minha mão

Escrevi teu nome na água
Coisa que não se fazia
O teu nome é tão lindo
Que até na água se lia

Ai quem me dera uma lima
Para limar a garganta
Para cantar como a rola
Como a rola ningém canta

Já comi e já bebi
Já molhei minha garganta
Eu sou como o rouxinol
Quando bebe logo canta

Todo o pardal come trigo
E a coruja bebe azeite
O melro da minha prima
Come carne e bebe leite

3 comentários:

Anónimo disse...

A quadra tem pouco espaço
Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!
(ass: António Aleixo...homem do povo!)

Anónimo disse...

Lembro-me ouvir cantar o Fernando
À volta da Fogueira no Natal
Tu delirando e nós acompahando
Sei que não rimavas nada mal

ò tempo volta para trás.....Um abraço amigo
Ass: Outro Forcalhense ( amigo do Aleixo)

Anónimo disse...

Grande poeta é o povo
Assim se diz por aí
O Fernando não o nega
A rimar já o ouvi

Escreve versos de meu agrado
Ás vezes lembra-me o Aleixo
Já o ouvi cantar o fado
Tambem disso não me queixo

Nessa noite de consoada
Cantando junto á fogueira
Houve garganta afinada
Que cantou a noite inteira

Cantámos desgarradas
Até ao romper da aurora
Noites assim animadas
Lembram-se pela vida fora
1 abraço